O limbo que marca a transição
entre os vivos e os mortos foi sempre um local envolvido pelas brumas do
mistério. Nele encontra-se, também, uma planta que marca a passagem entre a
luz e as trevas, a alegria e a tristeza, a fugaz liberdade da vida e a prisão
perpétua da morte. Essa planta é o asfódelo ou abrótea.
No mito de Perséfone esta, ao ser
retida no Hades, vai sentir toda a angústia da privação da companhia de sua
mãe, Deméter, do seu amor e de todas as belezas da natureza que ambas, dia após
dia, cuidavam. Porém, nessa mágoa e saudade, ela deixa a marca da sua passagem quando
caminha para o submundo, indicando aos que a vão seguir um sinal da sua
generosidade, fazendo brotar como alimento, para os que já não pertencem à vida,
campos de asfódelos na lúgubre entrada do seu túmulo.
Em sentido inverso, as flores desta planta brotam, também, no final do inverno, crescendo para o mundo exterior, acompanhando e anunciando o alegre reencontro de Perséfone com sua mãe, na chegada da primavera.
Em sentido inverso, as flores desta planta brotam, também, no final do inverno, crescendo para o mundo exterior, acompanhando e anunciando o alegre reencontro de Perséfone com sua mãe, na chegada da primavera.
Esta planta tem, pois, um duplo
significado: o alimento dado ao ser humano no seu caminho para a morte, assim
como, passando pela morte, a ressurreição da alma para a vida.
Helena Cruz