Entre várias espécies a açucena branca - Lilium candidum - ou açucena de
Nossa Senhora – Madonna Lily (ou de Jerusalém) sempre foi a mais
importante, tendo como habitat natural a área que corresponde à Palestina e
Líbano, embora os fenícios ajudassem a sua expansão por todo o mediterrâneo
oriental. No estado selvagem, em habitat próprio seco e rochoso, é hoje
raramente encontrada, sendo embora bastante cultivada em jardins.
Uma das características mais
evidentes da açucena é apresentar uma haste alta sem ramificação, folhas
curtas, botões em posição vertical e flores que se mantém eretas com as pétalas
ligeiramente pendentes, exalando uma agradável fragância quando desabrocham de
maio a junho.
Flores de outras espécies como L. chalcedonicum que se encontram em antigas
pinturas murais tem pétalas descaídas e são vermelhas brilhantes. Uma espécie europeia,
L. bulbiferum é, também, frequente em
pinturas medievais, apresentando flores de cor laranja forte embora eretas, tais
como as de L. candidum.
SIMBOLISMO
O valor simbólico da açucena é
muito antigo, estando presente em diversas culturas. Os antigos minoicos
conferiam-lhe uma aura inspiradora e majestosa e nos impérios assírios e
egípcios foram o emblema da soberania dos reis. No Cântico dos Cânticos de
Salomão ela foi associada à juventude e inocência virginal das noivas e à flor
hebraica de Salomão, a estrela de David do judaísmo.
Em Creta foram encontrados
frescos mostrando plantas de L. candidum
(1600 - 1500 aC) no que seria uma antiga vila senhorial, sendo possível interpretar
que o propósito desta representação fosse assinalar que o senhorio dessa
habitação tinha um estilo de vida nobre. Uma associação mais óbvia de açucenas com o poder está patente no salão do trono do Palácio de Cnossos, aproximadamente
do mesmo período, onde nas paredes em redor do trono do sacerdote-rei, se observam grifos e flores estilizadas pintadas que poderão representar estas plantas.Também, na réplica da pintura
mural “The Prince of the Lilies” se observam estas flores junto a um nobre ou rei – sacerdote, assim como na sua coroa e colar.
The Prince of the Lilies - Palácio Cnossos (Creta)
Akrotiri (Thera/Santorini)
Um significado diferente para
esta planta é expresso nos frescos escavados em Akrotiri (Thera/Santorini) em três
paredes de um pequeno quarto onde se
observa uma paisagem rochosa pintada com açucenas vermelhas e andorinhas.
Apesar da verticalidade das flores
e das folhas curtas no fundo do caule, aspetos próprios do L. candidum (flor branca), verifica-se, neste caso, que a cor das
flores é vermelha. Talvez as características da açucena branca e vermelha fossem
combinadas de propósito nesta sala considerada uma antecâmara ritual da noiva,
estando associada a cerimónias de casamento como representação simbólica da
pureza na sua transição para a idade adulta. A açucena na sua forma branca e
vermelha poderia, também, estar ligada ao culto de adoração de Ariadne, suposta
deusa da vegetação de Thera, marcando em sinal de bênção o início do
crescimento, prosperidade e fertilidade das colheitas.
Em épocas posteriores, no mundo
grego e romano, a açucena foi considerado como o símbolo do amor sublime, da
procriação e da glória, tendo da mesma forma participado em rituais nupciais.
Posteriormente, no período bizantino, surgem imagens da flor já associado a temas cristãos, nomeadamente na igreja de Santo Apolinário (perto de Ravenna, século VI dC) num grande mosaico aparece na zona mais elevada a face de Cristo e abaixo da cruz, o primeiro bispo de Ravena, Santo Apolinário cercado por uma paisagem paradisíaca de verdes prados, árvores, açucenas e rosas para significar que a glorificação de Cristo irradia na própria natureza.
Durante a Idade Média as açucenas vermelhas parecem ter sido um símbolo da Virgem Maria, embora as brancas se
tenham tornado na flor particular da Anunciação, simbolizando a pureza de alma e
castidade da futura mãe de Jesus.
Carlos Magno (812) ao proclamar
éditos para os palácios imperiais, ordenou o cultivo de uma lista de 73 plantas
herbáceas, utilitárias e medicinais, tendo mencionando a açucena em primeiro
lugar. E, no seu poema Hortulus, o
abade do mosteiro de Reichenau, Strabo (809-849 dC) elogiou as suas flores como um remédio contra mordeduras de cobra, acrescentando que o mesmo indicava
a pureza da fé.
Uma imagem bíblica refere que no terceiro dia de criação, após
a separação da terra e do mar, árvores e plantas foram criadas, mencionando as açucenas e as rosas.
Expulsão de Adão e Eva do paraíso pelo Arcanjo Miguel - Giovanni di Paolo (1440)